Especialistas destacam os benefícios da amamentação, a importância do acolhimento às mães e a meta brasileira de ampliar o aleitamento exclusivo
Amamentar é um ato de amor, saúde e também de sustentabilidade. Durante o mês de agosto, conhecido como Agosto Dourado, o aleitamento materno ganha destaque com campanhas de conscientização em todo o mundo. Entre os dias 1º e 7, acontece a Semana Mundial da Amamentação, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que neste ano aborda o tema “Priorize a amamentação: crie sistemas de apoio sustentáveis”.
A proposta é não apenas reforçar os benefícios do leite materno para o bebê e a mãe, mas também destacar a necessidade de políticas públicas e redes de apoio que tornem o ato de amamentar possível, seguro e prazeroso.
Leite materno: alimento completo e sustentável
Segundo a consultora de amamentação e fonoaudióloga Mayra de Paula, a campanha é essencial para esclarecer dúvidas e desconstruir mitos que ainda cercam a amamentação.
“Ainda é muito comum dúvidas sobre a qualidade do leite materno, se a quantidade de produção é suficiente para o bebê, se há necessidade de complemento líquido ou como continuar amamentando mesmo após a licença maternidade. Portanto, é fundamental esclarecer essas questões para que a amamentação seja segura e prazerosa para a mãe e a criança”, afirma.
Além de alimentar, o leite materno ajuda a fortalecer o sistema imunológico do bebê, reduz o risco de doenças crônicas ao longo da vida e contribui para o desenvolvimento emocional, uma vez que estreita os laços afetivos com a mãe.
No entanto, a amamentação vai além da nutrição e do vínculo emocional: ela também é uma escolha sustentável. Diferentemente dos alimentos industrializados e fórmulas artificiais, o leite materno é produzido naturalmente, sem embalagem, transporte ou descarte, reduzindo significativamente o impacto ambiental.
Desafios enfrentados pelas mães
Apesar de todos os benefícios, muitas mulheres ainda enfrentam dificuldades físicas, emocionais e sociais que comprometem o processo de amamentação. Mayra de Paula chama atenção para a importância do acolhimento nesse momento sensível.
“Muitas mães enfrentam barreiras físicas, emocionais, sociais e culturais durante o processo de amamentação, como dor e fissuras nos seios, falta de apoio no ambiente de trabalho, cobranças familiares e exaustão física. Esses fatores prejudicam a relação com o recém-nascido e o processo de amamentação”, explica.
A especialista reforça que desconstruir mitos e oferecer apoio físico e emocional são medidas urgentes para garantir que mais mães consigam amamentar com tranquilidade.
O acolhimento pode vir de diferentes frentes: da família, que deve oferecer suporte emocional e prático; dos profissionais de saúde, com orientações seguras e empáticas; e do ambiente de trabalho, com políticas que respeitem o tempo da maternidade e garantam o direito ao aleitamento.
Avanços e metas para o futuro
No Brasil, o aleitamento materno exclusivo por até seis meses apresentou avanços importantes nas últimas décadas. Segundo dados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil, em 1986, apenas 3% dos bebês eram alimentados exclusivamente com leite materno até o sexto mês. Em 2021, esse número chegou a 45,8%.
A meta do país, alinhada aos objetivos da OMS, é alcançar o índice de 70% até 2030. Para isso, especialistas como Mayra de Paula defendem a ampliação de campanhas educativas, atendimento especializado para mães e políticas públicas que envolvam toda a sociedade no processo de incentivo à amamentação.
“A amamentação não é responsabilidade apenas da mãe. É um compromisso coletivo que envolve o sistema de saúde, a família, os empregadores e a sociedade como um todo”, finaliza a consultora.
Importância de políticas públicas eficazes
A criação de políticas públicas que priorizem a amamentação é um passo essencial para garantir o aumento dos índices de aleitamento exclusivo. Isso inclui desde a ampliação das licenças-maternidade e paternidade, até a oferta de salas de amamentação em empresas e campanhas de conscientização contínuas nas unidades de saúde.
Além disso, é necessário investir na formação de profissionais capacitados para orientar as mulheres, inclusive durante o pré-natal, e garantir a continuidade do suporte após o parto — momento em que muitas mães abandonam a prática por falta de ajuda adequada.
Semana Mundial da Amamentação como motor de mudança
A Semana Mundial da Amamentação, celebrada anualmente na primeira semana de agosto, funciona como uma oportunidade de mobilizar diferentes setores da sociedade. Escolas, empresas, hospitais, associações de classe e veículos de comunicação têm papel fundamental na amplificação da mensagem.
Com o mote deste ano, “Priorize a amamentação: crie sistemas de apoio sustentáveis”, a campanha reforça que garantir o aleitamento não é uma ação isolada, mas um esforço coletivo e contínuo, que exige planejamento, empatia e políticas de longo prazo.
Aleitamento e empoderamento feminino
Outro aspecto relevante da amamentação é o empoderamento feminino. Ao oferecer as condições necessárias para que uma mulher amamente, a sociedade contribui não só para a saúde do bebê, mas também para a autonomia e segurança da mãe em seu papel.
Reconhecer os desafios sem culpabilizar, informar sem pressionar e acolher sem julgar são atitudes que devem fazer parte do cotidiano de quem convive com uma mulher em fase de amamentação.



